"Mas ELE não aceitava o fim do relacionamento"

 O Google demorou 45 segundos para me entregar 3.680.000 resultados com a frase "mas ele não aceitava o fim do relacionamento".

Há dias estou com uma inquietude e devo isso ao fato do noticiário constantemente me lembrar que, como mulher, preciso saber dos riscos que corro ao entrar em uma relação. E isso me deixa angustiada. 

É como se nós, mulheres, tivéssemos a obrigação de fazer um relacionamento dar certo, não importando as circunstâncias e situações que fomos submetidas. Quando leio ou escuto essa frase, sinto uma culpa atribuída a mulher (nada anormal), e podemos comprovar isso, ao ler os comentários em redes sociais quando  a maioria sai à caça do perfil da vítima, justificando, de certa forma, o ato do agressor. 

Eu não sou pesquisadora na área (ainda) mas sou mulher e fico apreensiva não apenas por mim, que espero sim, ter uma relação sólida, mas também por minhas sobrinhas, amigas, parentes e por todas as mulheres que sonham em entrar em um relacionamento e permanecerem vivas. Lembro aqui que a violência contra a mulher não se restringe apenas à física, mas esse assunto é longo e demanda outro post.

Não sou hipócrita. Sei de casos onde mulheres são coparticipantes ou até mesmo autoras de crimes brutais. Mas estou aqui defendendo o direito de poder me relacionar com outro homem, terminar a relação se for algo que não tem mais como continuar, e permanecer viva. Estou aqui dizendo que a frase "mas ele não aceitava o fim do relacionamento" não anula o fato de que o homem envolvido na violência contra a mulher é um agressor, e não importa se foi por uma decisão dela, mas sim que ele agrediu ou matou a pessoa com quem se relacionava ou se relacionou um dia.

Ter um relacionamento é uma incógnita. A gente nunca sabe o que esperar do homem que dividimos sonhos, alegrias, tristezas, e uma vida. Houve um tempo, em um desses aplicativos de encontros, que eu selecionava pela probabilidade de, baseado na fisionomia do rapaz, ele me agredir. Hoje abandonei esses aplicativos. É como um livro, não temos como saber apenas pela capa. E tal como um livro, tem muita capa bonita e atraente que faz da vida das mulheres um inferno.

Mesmo assim, não perco minha fé e minha esperança nos homens. E mais do que isso, busco educar o homenzinho que eu tenho em casa - Leonel, 12 anos - para respeitar as mulheres e seus direitos. Acredito que esse já é um grande início. 

 

Imagem disponível em: https://ptnosenado.org.br/brasil-uma-nacao-incapaz-de-reconhecer-o-feminicidio/

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