Estranha do andar de cima




Mais uma noite que a cena se repetia. O barulho de salto alto no andar de cima deixava Carlos intrigado. Deve ser uma puta daquelas bem gostosa, pensava ele enquanto bebia uma cerveja morna descansando o corpo mole no sofá da sala. A voz do jornalista na tevê contava a história de Janaína, uma empregada doméstica que sonhando com uma vida melhor trabalhava o dia todo e à noite ia para faculdade depois de pegar três ônibus. Janaína, o mesmo nome da desgraçada que tinha lhe abandonado há cinco meses. Onde estaria aquela rapariga? E com quem? Em um dia normal para ele, chegou em casa pensando encontrar sua mulher. No lugar dela, armários vazios e um bilhete escrito sem vontade alguma no papel que embrulhou o pão do dia anterior: “Fui embora”. Nenhuma explicação, nenhuma despedida. 

Carlos, homem viril, como fora criado por seus pais, sequer se abalou. Jogou o papel no lixo, pegou sua cerveja e deitou no sofá a assistir o noticiário. Imaginava que ela voltaria. Ela que volte! Vou mostrar quem manda aqui de uma vez por todas.

Mas Janaína não voltou. 

Carlos desperta destes pensamentos com mais um toc toc dos saltos da vizinha do andar de cima. Levanta para pegar uma cerveja. Aproveita e dá uma espiada pra ver se encontra alguma pista de quem é a mulher misteriosa. Não entendia como não encontrava com ela em algum momento.De dia não se ouvia barulhos no andar de cima. O toc toc dos saltos começava sempre à noite. Claro, pensava ele, ela deve descansar durante o dia. Deve ficar com o corpo cansado! Dá uma risadinha sarcástica com o seu pensamento. Olha para cima e vê apenas uma calcinha pendurada na pequena janela. Calcinha lembrava Janaína e ele nem sabia o porquê. Recordou o dia que a conheceu. Ônibus lotado, sexta-feira fim de expediente. Carlos entrou no ônibus e acomodou-se ao lado de uma jovem morena. Ela sorriu. Ele puxou papo. O trajeto era longe para ela, ele desceria logo adiante mas mentiu e deixou passar o ponto de sua casa. Desceu com Janaína. Ela estava sozinha em casa. Cara de menina. Jeito de mulher decidida. Convidou-o para entrar. Para ela uma hora de conversa no ônibus já era intimidade. Não perderam tempo, sua mãe poderia voltar mais cedo do salão onde fazia unhas para pagar a faculdade de Janaína. Foram logo se atracando. Carlos levou sua mão entre as pernas de Janaína que estavam cobertas por uma fina saia. Pele úmida, sem calcinha. Seus dedos entraram em Janaína que gemia de prazer. Sem dúvidas,a melhor foda de Carlos. Trocaram telefones e em uma semana Janaína morava em sua casa. Abandonou a faculdade. Esperava Carlos nua na sala, pronta para sentar em seu colo.Janaína não saía de casa. Carlos a queria para si. 

Viviam no mundo deles. Mas, em um dia qualquer, ela foi embora. Um mês de foda e cinco sem Janaína. 

Uma sombra passou na janela do banheiro que Carlos espiava. Moveu seu corpo para trás temendo ser visto. Bobagem, seria impossível. Carlos sentiu seu corpo aquecer. Queria a mulher do andar de cima. Na verdade queria uma mulher. Desde que Janaína se fora, aquela ingrata, não havia transado com ninguém. De vez em quando, para liberar a tensão, batia uma punheta pensando em Janaína.

Tensão! Tesão! Toc toc!

Carlos sabia o que precisava. Baixou as calças e encostou seu corpo na parede fria. Tão fria quanto o coração de Janaína. Ficou escutando os movimentos da vizinha do andar de cima que ele já sabia bem o que era. A mão tocava seu membro. Em um móvel ao lado a cerveja esquentava ainda mais. Prioridades.

A vizinha ligou o chuveiro. Carlos tentava imaginar o corpo nu daquela que deveria ser uma bela mulher. Os cabelos caindo aos ombros, o sabonete deslizando em sua pele. Os olhos redondos e negros, igual aos olhos de Janaína. Seios miúdos onde cabia toda sua boca.  Que maldita! Não sai da minha cabeça! Ele voltava a concentração na vizinha. Ela geralmente era breve, ele precisava se apressar. Como seria a boca daquela mulher?  Lábios carnudos e língua quentinha? Janaína era assim. Sentiu seu volume crescer entre as mãos. Lembrou que Janaína lhe elogiava o tamanho. Encaixa perfeitamente em mim, dizia ela, enquanto encaixava seus corpos. 

Ridícula! Porque se foi? Carlos respirava ofegante. Precisava se concentrar, a vizinha já ia sair com seus saltos sabe-se lá para onde.

Uma, duas, três batidas e o leite escorreu. Ora pensava em Janaína, ora na estranha do andar de cima.  Lembrou que Janaína não perderia uma gota daquilo que escorria em sua pele. Mas agora só  restava limpar. Um gole na cerveja morna para recuperar as forças. O toc toc dos saltos voltou. Armários abrindo. Cinco minutos e a maçaneta girou. A porta fechou.

Carlos correu até a porta. Sentiu o perfume de Janaína. Estou ficando louco, pensou ele. Ia seguir, mas lembrou das calças que ainda estavam nos joelhos. 


Merlen da Luz Alves

merlendaluzalves@outlook.com

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