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estranhezas de dois

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  vendo nós dois assim, entre toques e risos ,  ninguém diria que não somos um casal.  nem mesmo nós.  a verdade é que deixamos o passado e o presente serem maiores que nosso futuro. pensamos tanto nos porquês que esquecemos de viver o que sentimos um pelo outro.  e não adianta esconder: o tempo passa e com ele, os sentimentos mudam. compartilhamos tudo,  menos a coragem de admitir que queremos estar juntos.  disse um poeta que somos instantes e isso é como uma bofetada que perpassa todos os meus corpos sutis.  e  foi  entre as notificações na tela do celular  que percebi que nossos instantes - o meu e o teu -  estão passando como um filme em câmera lenta.  até que as cenas se apaguem por completo,  sem direito à uma nova temporada d epois de tantos instantes perdidos na incerteza de nossas preocupações só nos restará dizer que os bons morrem cedo.  e o que fizemos daquele tempo ao lado dos bons?  o que fizemos do que sentimos?  uma lágrima andarilha em meu rosto é a resposta.  nossa v

Carta aberta ao meu sutiã bege

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  Desde sempre ouvi as pessoas dizerem que sutiã bege não era atrativo aos homens. Isso me deixava inquieta pois não conseguia imaginar um homem vestindo sutiã de nenhuma cor. Mas como cada um tem suas preferências, não levava em consideração.   O tempo passou, eu cresci e meus seios também. Obviamente que as vontades e os desejos tomavam proporção e tinham espaço em minha vida. Nas rodinhas com as amigas era comum a frase: "Sutiã bege é broxante. Homem broxa se vê sutiã dessa cor, e calcinha também. Jamais usem!" Embora sem concordar, aceitei essa colocação e deixava o sutiã bege para as idas na academia e as calcinhas beges para os dias de menstruação. O mais engraçado é que ainda assim - usando as clássicas langeries vermelhas, vinhos ou rosa chiclete quando queria fazer a mocinha virgem -, homens broxaram várias vezes comigo. Eu não vejo problema em homem broxar, acontece e é perfeitamente normal. Tão normal quanto nossa fiel dor de cabeça que casualmente aparece naqueles

Anunciação

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 Vende-se um coração quebrado. Está bom e funcionando perfeitamente. Falta apenas paciência de alguém para juntar os cacos que ficaram espalhados em avenidas e vidas, percorridas com dor, tristeza e saudade. Estou vendendo por motivo de mudança. Vou para onde ninguém me conhece e não quero este tolo coração comigo. No lugar dele irei plantar uma pedra. Se quebrada também for, jogo fora e pego outra.  Quem se interessar, leva de brinde o pouco amor que resta e que ninguém quis. Leva também doçura para os dias amargos e momentos quentinhos providenciados ao lado de duas xícaras de chá. É tudo que restou de uma vida banhada em solidão.  Não aceito trocas.  Valor, tratar inbox.  Crédito na imagem.  Merlen A. Jun/22

Perícia

  Vasculho essa carne dolorida atrás de vestígios de uma noite de samba e poesia  quando encaixei minhas pernas no compasso das tuas dores. Procuro um cheiro ou uma gota de suor deslizante no labirinto de duas cabeças perdidas  elos capilares criam um fio de esperança longínqua em mim. Numa busca contínua encontro um gosto doce vagando o céu da minha boca denúncia de prazer, lascívia e saudade.  Um suspiro com a textura de vinho aquecendo meu pescoço, arrancando gemidos baixos,  precisos porém indecisos trás recordações esquecidas por um. Aqui já não te vejo  mas teu único gozo tatuou plurais em mim.  Merlen A. Jun/22

Amores de bosta-uma crônica relembrando velhos tempos

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  Enquanto cago, vasculho as redes sociais lendo as declarações de todos os meus ex-amores para suas atuais esposas. Acreditem, não são poucos.  Somando o tempo de apaixonada por cada um, podemos dizer que quase faço Bodas. De Marfim, afinal, não sou tão velha.  Não sei se cago ou se seguro o riso. Acho que eu deveria era agradecer por ter declarado falência em relacionamentos e por estar, de acordo com as convenções da sociedade, encalhada.  De tanto procurar, até que achei um deles solteiro. Mandei convite de amizade e ele aceitou na hora. Nossa, eu era muito apaixonada por ele. Era o mais requisitado da escola e obviamente não ia olhar para a menina magrela, de tetas rasas e cabelo grudado no caco da cabeça. Nessas horas quero xingar minha mãe que me deixava igual um menino. Mas voltando ao ex ser amado, queria saber onde foi parar aquele cabelo preto ajeitado em um lindo topete e aquela barriga lisinha.  Até tentei dizer que o velho barrigudo, com entradas enormes na cabeça que eu

Quando covarde te disse adeus

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  Quando covarde te disse adeus Estou sozinha em casa. Ligo a tv e no jornal, repórteres avisando que tem um ciclone extratropical vindo na direção sul do Brasil. Eu moro na direção sul do Brasil.  Preparo uma sopa. Enquanto corto os legumes, me pergunto onde andará Lindolfo.  Lindolfo era o nome do meu avô. Eu nem o conheci, mas quando vi aquele gato com um bigode preto no pelo branco, notei que parecia com um velho que eu via na  fotografia do casamento da minha mãe. Batizei o gato de Lindolfo. Ele aparecia quando queria, igual ao meu avô que abandonou a família para viver circulando entre puteiros. Espio pela janela na esperança que Lindolfo apareça antes do ciclone. Já tem um vento balançando a cachopa das árvores. Coloco alguns legumes para fritar. Não sei se devemos fritar  legumes, mas minha mãe dizia que sim. Aliás, já faz dois meses que ela não me liga. Desde que eu disse que estava gostando de uma colega de sala. Pelos menos os recibos pagos da faculdade estão vindo para o me

Receptáculo

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Um orgasmo seguido de despedida seguido de um jogar de água sobre as partes. O azedo do gozo se misturou com o salgado de uma lágrima insistente.  Nenhum carinho, afago ou promessa. Apenas vestígios que precisavam ser ocultados. Naquele momento, importava o tempo. Vesti-me tentando acompanhar a pressa. Ao chegar em casa, as lágrimas despencaram. Meu corpo que horas antes estava envolvido em um suor leitoso, agora destilava dor por todos os poros. Revirava-me entre os lençóis, querendo de alguma forma suprir aquele abandono. Mas o nojo de mim era maior. Agarrei meus peitos com força na tentativa de arrancá-los. Os bicos eretos denunciavam prazer.  O que era para ser apenas um acaso, hoje era um amor pela metade. O meu.  Eu era o desabafo de uma relação conjugal quase falida, e de certa forma, sentia-me útil. Confesso que me deixei levar por uma tola primeira excitação. Mas como não se deixar levar se mesmo antes de nossos corpos se encontrarem ele já havia me penetrado com palavras?  E

Estranha do andar de cima

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Mais uma noite que a cena se repetia. O barulho de salto alto no andar de cima deixava Carlos intrigado. Deve ser uma puta daquelas bem gostosa, pensava ele enquanto bebia uma cerveja morna descansando o corpo mole no sofá da sala. A voz do jornalista na tevê contava a história de Janaína, uma empregada doméstica que sonhando com uma vida melhor trabalhava o dia todo e à noite ia para faculdade depois de pegar três ônibus. Janaína, o mesmo nome da desgraçada que tinha lhe abandonado há cinco meses. Onde estaria aquela rapariga? E com quem? Em um dia normal para ele, chegou em casa pensando encontrar sua mulher. No lugar dela, armários vazios e um bilhete escrito sem vontade alguma no papel que embrulhou o pão do dia anterior: “Fui embora”. Nenhuma explicação, nenhuma despedida.  Carlos, homem viril, como fora criado por seus pais, sequer se abalou. Jogou o papel no lixo, pegou sua cerveja e deitou no sofá a assistir o noticiário. Imaginava que ela voltaria. Ela que volte! Vou mostrar

Extração

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 "Agora, vire a cabeça pra cá. Isso...assim." Foi a primeira vez que o dentista pediu pra engolir e não, cuspir.

"Mas ELE não aceitava o fim do relacionamento"

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  O Google demorou 45 segundos para me entregar 3.680.000 resultados  com a frase "mas ele não aceitava o fim do relacionamento". Há dias estou com uma inquietude e devo isso ao fato do noticiário constantemente me lembrar que, como mulher, preciso saber dos riscos que corro ao entrar em uma relação. E isso me deixa angustiada.  É como se nós, mulheres, tivéssemos a obrigação de fazer um relacionamento dar certo, não importando as circunstâncias e situações que fomos submetidas. Quando leio ou escuto essa frase, sinto uma culpa atribuída a mulher (nada anormal), e podemos comprovar isso, ao ler os comentários em redes sociais quando  a maioria sai à caça do perfil da vítima, justificando, de certa forma, o ato do agressor.  Eu não sou pesquisadora na área (ainda) mas sou mulher e fico apreensiva não apenas por mim, que espero sim, ter uma relação sólida, mas também por minhas sobrinhas, amigas, parentes e por todas as mulheres que sonham em entrar em um relacionamento e perma